Uma condição própria da natureza humana, é a busca incessante por bem estar e felicidade, mas é preciso compreender que antes de mais nada somos programados para lutarmos por nossa sobrevivência nesse mundo. Essa premissa traz uma revelação importante: as pessoas estão dispostas a abrirem mão de felicidade e bem estar em busca de segurança, quando a situação é percebida como um dilema. Mas será que precisa ser assim?
Se encararmos nossa vida como uma jornada, independentemente de quais sejam seus desejos, sonhos e projetos de vida, seria de grande ajuda entender aquilo que nos motiva e que faz com que valha a pena assumirmos riscos e até mesmo tolerarmos alguma dose de sofrimento, que a propósito, também é algo inerente à condição humana. Portanto, não é preciso ter uma vida perfeita para sermos felizes. O que nos faz feliz é viver em harmonia com nossas crenças e alinhados com o que podemos chamar de missão de vida. Nestas circunstâncias estamos dispostos inclusive a fazer sacrifícios generosos em prol do que acreditamos.
Certa vez, perguntaram ao filósofo e matemático Tales de Mileto: "Qual a mais difícil de todas as coisas?" E a resposta paradoxal foi "Conhecer a si mesmo". Realmente não é tão fácil encontrarmos explicações para a forma como agimos e nos sentimos, imagine o quão mais difícil para questões fundamentais como "qual o sentido da vida"? Talvez passemos a vida em busca de muitas dessas respostas. Por outro lado, quando somos protagonistas na gestão do modo como pensamos e sentimos e, consequentemente, nos tornamos capazes de fazer escolhas e agirmos do modo como gostaríamos, pode acreditar, nossa jornada tende a ser muito mais satisfatória.
Peço que observe na imagem do iceberg como nossos comportamentos são representados como algo visível. Note também que nossa essência, ou seja, nossos pensamentos, motivações, intenções, valores e crenças seguem invisíveis para as outras pessoas.
Afinal, o que move o iceberg? Não são os ventos na superfície, mas sim as correntes marítimas. Por analogia, podemos concluir que nossos comportamentos observáveis são produtos do que ocorre em nossa mente, nas águas profundas de nossos pensamentos e emoções, longe da superfície visível às outras pessoas.
A Neurociência trouxe uma compreensão extraordinária em relação ao funcionamento dessas "regiões submersas". Um neurocientista australiano, chamado David Rock, em uma de suas obras apresentou a seguinte citação:
Tudo que você faz na vida é baseado na determinação do seu cérebro para minimizar o perigo e maximizar a recompensa.
Ele chama esse conceito de Princípio Organizador do Cérebro. Podemos afirmar que nosso cérebro a todo instante percebe a realidade à nossa volta e tenta prever a melhor resposta comportamental que se adeque às demandas do meio.
Nossa capacidade de aprendizado é praticamente ilimitada, haja vista as incontáveis possibilidades de criarmos novas conexões neurais, ou em outras palavras, criar novos "mapas mentais" que nos apontam soluções mais eficazes, conforme experiências positivas; mas também podem gerar traumas e reforçar tendências limitantes para nosso crescimento como pessoa, quando nossas experiências são negativas.
Não podemos ignorar, entretanto, que antes mesmo do nascimento, nosso cérebro recebe uma espécie de "pré-programação". Gary Marcus sugere uma analogia fantástica:
O cérebro é como um livro, cujo primeiro rascunho é escrito pelos genes durante o desenvolvimento fetal. Nenhum capítulo está completo no nascimento, e alguns são apenas contornos grosseiros que esperam ser preenchidos durante a infância. Mas não há um único capítulo – seja sobre sexualidade, idioma, preferências alimentares ou moralidade – feito de páginas em branco nas quais uma sociedade possa inscrever qualquer conjunto concebível de palavras.
Podemos presumir que mudar é uma necessidade constante, uma vez que a vida nos apresenta novos desafios e precisamos amadurecer. Algumas mudanças certamente exigirão muito mais de nós e precisamos enxergar uma recompensa que justifique tamanho esforço. Conhecer nossos traços de personalidade e tendências pode ser bastante útil, pois quando caminhamos respeitando nossa natureza, conseguimos resultados positivos com menos esforço e em menor tempo.
Deste modo, mudar não deve ser encarado como abrir mão de quem nós somos, mas sim de ampliarmos nosso repertório comportamental explorando nossos pontos fortes naturais, desenvolvendo novos "recursos" e evitando armadilhas comuns em razão de nossas características pessoais.